Limites e Possibilidades na Educação Online | Viviani Anaya
Profa Dra Viviani Anaya | Coordenadora e Professora do curso de Pedagogia da Universidade Veiga de Almeida – Doutora em Educação e Currículo – PUCSP
Este ensaio tem como princípio gerador a educação à distância, seus limites e possibilidades, nas condições postas pela contemporaneidade, influenciando, sobremaneira, a organização social, seus sistemas educacionais e a formação dos sujeitos. Nesta “nova era” de complexidade, incertezas, indeterminações, ambiguidades, paradoxos e contradições insere-se a educação mediada pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), circunscrevendo um novo ambiente de aprendizagem, a partir da derrubada das fronteiras de tempo e espaço, limitados pela educação presencial.
Nesta nova geografia educacional, elementos como a cultura do estudo autônomo, a prática pedagógica levada a efeito pelos professores/tutores e a estrutura curricular dos cursos, nos possibilita inferir, a priori, que a escolha pelo curso online pautar-se-ia numa pseudo facilidade e flexibilidade em relação aos estudos acadêmicos, sem considerar o amplo espectro de variáveis inerentes a um curso oferecido nesta modalidade.
A escolha pela instituição formadora segue, via de regra, os mesmos critérios da escolha de um curso da educação presencial, sem considerar os elementos inerentes a formação à distância, com suas especificidades, critérios e organização. Neste contexto, a despeito da não obrigatoriedade da presença em um espaço físico determinado, a educação online, na visão dos alunos, se mostra incipiente em seu processo formativo. Nota-se a esta afirmação, a desconsideração do papel do aluno, numa condição autônoma e reflexiva, neste novo habitus. Portanto, o aluno não se percebe enquanto sujeito nesta nova cultura formativa.
O Trabalho colaborativo, os aspectos didáticos, metodológicos e avaliativos, se apresentam como as maiores fragilidades descritas pelos alunos. Segundo os alunos, os conteúdos disponibilizados não atendem suas necessidades, sendo extensos e cansativos ou perigosamente resumidos, pressupondo uma autonomia que este aluno ainda não desenvolveu; nota-se a ausência de metodologia diferenciada; as avaliações são aplicadas em curto espaço de tempo; há ausência da intervenção pontual do professor; ausência de sugestões de leitura complementar; fóruns e atividades vencendo em curto espaço de tempo; falta de organização; pouca ou nenhuma interação professor-aluno e, sobretudo, a ausência do desenvolvimento profissional para os professores que atuam na educação online.
No que tange à administração do tempo, espaço e estudo, constata-se a ausência de uma rotina diária de estudo. A presença nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem – AVA – é minimizada, considerando que, não raro, o acesso fica restrito há uma hora diária de estudo. Neste contexto de análise, os conceitos de tempo e espaço se apresentam, paradoxalmente, potencialidade e fragilidade. A não obrigatoriedade da presença, aspecto marcante da educação presencial, é confundida com a pseudo liberdade da educação online. Esta confusão de tempo, espaço e compromissos discentes tem conotação divergente e antagônica ao proposto pela contemporaneidade, defesa deste ensaio, que apresenta tempo e espaço flexibilizados, mas não minimizados.
Introjetar esta nova cultura de organização de tempo e espaço para a formação mediada pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) configura-se como alternativa para a constituição de um novo habitus formativo, pautado pela reflexão, autonomia e emancipação. Assim, o desenvolvimento, pelo aluno, de uma nova cultura formativa – a cultura do estudo autônomo –, a prática pedagógica dos professores/tutores no desenvolvimento de novas estratégias de mediação, a reorganização da estrutura curricular considerando as especificidades inerentes a um curso ou disciplinas oferecidos na modalidade online, uso profícuo dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem – AVA, dinâmicas avaliativas com vistas a uma ressignificação das ações desenvolvidas na organização do trabalho pedagógico e condições objetivas de trabalho para os professores e tutores nesta rede virtual de aprendizagem, se convertem em elementos agregadores que possibilitam o desenvolvimento desta nova cultura formativa.
O aluno, não raro, não percebe este novo habitus formativo e, consequentemente, desconsidera seu papel, enquanto sujeito autônomo e reflexivo, nesta nova rede virtual de aprendizagem. Neste contexto, estudos que considerem a cultura formativa, reconfigurando-se tempo e espaço de aprendizagem, a organização curricular coadunada com as especificidades postas pela educação online, práticas pedagógicas condizentes com a modalidade de ensino em que se atua, formação profissional e reais condições de trabalho docente e discente, possibilitaria uma maior compreensão da educação à distância enquanto novo habitus de formação.